Os pontos mais salientes das eleições de ontem:
- um claro castigo do PS que, embora beneficiando da «marcha» da campanha, perde a maioria absoluta, perde cerca de 9 pontos por comparação com 2005 e obtém o seu pior resultado dos últimos 15 anos;
- uma patente derrota também do PSD (com um resultado próximo do de Santana Lopes em 2005) e a manutenção da conjunto da direita num baixo patamar de 40% (sem prejuízo de um assinálavel progresso do CDS);
- um importante êxito eleitoral do BE que capta boa parte do descontentamento com a governação do PS;
- um bom e estimulante resultado da CDU traduzido na progressão de quase meio ponto percentual e da obtenção de mais 30 mil votos por comparação com 2005, o que lhe permite enfrentar com confiança e esperança o terreno eleitoral das autárquicas onde, de há muitos é, e certamente continuará a ser, uma destacada força no plano autárquico.
Globalmente, não pode haver margem para dúvidas, estas eleições marcam uma viragem eleitoral à esquerda, com o que implica de condenação da política de direita tão prolongadamente realizada e de exigência de uma nova política ancorada em valores verdadeiramente de esquerda.
Agora já sabemos, vai vir aí na comunicação social todo o estranho critério da supervalorização da ordenação em termos de peso parlamentar (CDS em 3º, BE em 4º e PCP e Verdes em 5º). Mas tenham santa paciência, os apoiantes da CDU podiam desejar melhor e achar que a CDU merecia maior apoio ainda, mas a análise de resultados eleitorais em Portugal e no mundo faz-se sempre é em comparação da votação agora obtida com a atingida nas eleições anteriores.
P.S.: José Sócrates fez, esta noite, um discurso todo ele construído como se tivesse acabado de ser popularmente investido como primeiro-ministro de Portugal. Ora, pode ser que o venha a ser, mas era bom ficar claro que essa possibilidade deriva não tanto de o PS ser o partido mais votado mas do facto de a direita (PSD+CDS) não terem uma maioria absoluta na AR. Se, por acaso, a tivessem, podiam muito bem entender-se para rejeitar o programa de Governo de Sócrates e oferecer-se legitimamente ao PR para formar Governo.
Vitor Dias