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Odivelas de Cimento

Contra a invasão do betão, pela qualidade de vida de quem vive no nosso Concelho !

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Odivelas de Cimento

20
Set10

Presidente Medieval!

antonio ribeiro

 

 

Ainda mal a semana da mobilidade tinha começado, ainda andava eu a tentar perceber como a data iria ser celebrada por terras lusas, quando encontrei o presidente do Automóvel Clube de Portugal ali pela baixa da Invícta. A pretexto dos números de atropelamentos e das vítimas por eles causadas, lembrou-se o ACP de lançar uma campanha sob o lema “todos somos peões”. Ao ouvir o presidente do clube em directo na RTP, fiquei atordoado, senti-me como que atropelado na minha inteligência.

 

O senhor Carlos Barbosa acha que o problema dos atropelamentos é responsabilidade dos peões! Admirados? Ouçam o sujeito aqui e digam lá se não é de bradar aos céus? Em matéria de mobilidade, o presidente do ACP é uma pessoa medieval. No seu entendimento, deveria reinar a lei do mais forte nas relações entre peões e automóveis.

 

Em 2006, a Ordem dos arquitectos organizou um encontro dedicado ao tema da cidade para os cidadãos em que foi apresentado um trabalho da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M) com o título “Somos Todos Peões”. A diferença entre a iniciativa do ACP e o documento da ACA-M não se fica pela troca de duas palavras. Enquanto para o ACP, a defesa do peão importa na medida em que seja razão para desimpedir a via pública para o automóvel circular como “é seu direito”, para a ACA-M a defesa do peão tem que ver com um direito inalienável e universal que todos temos.

 

Ao contrário do condutor de qualquer veículo motorizado, o peão não necessita de nenhuma condição prévia para poder circular. Ao peão não é exigido nenhum exame para andar na via pública. Um cidadão limitado nas suas faculdades, não tem qualquer tipo de restrição à mobilidade enquanto peão, ao contrário do cidadão que pretende conduzir um automóvel ou um motociclo, logo os direitos e deveres entre condutor e peão são diferentes, nomeadamente em matéria de segurança e integridade.

 

Se todos somos peões, essa é uma condição universal, e essa é uma condição que quando em conflito com um veículo motorizado, dá ao peão uma desvantagem evidente entre capacidade de criar dano e risco de sofrer dano. Claro que quem conduz uma tonelada de ferro mesmo a “apenas” 30/40 km/h comporta maior perigo potêncial que alguém que translada 70kg a 2 km/h! Ou não, senhor Barbosa?

 

Imaginemos por momentos que num qualquer parque automóvel ou avenida de Lisboa vários lugares de estacionamento, para não dizer todos, estavam ocupados por peões a ler o jornal, a saborear uma bica ou um cimbalino, a brincar com os filhos numa manta estendida, a dormir a sesta. Imaginemos que de cada vez que um condutor não respeita uma passadeira, um sinal vermelho ou faz uma razia a um ciclista, a conta bancária é descontada em cerca de 200€ (valor duma multa por não respeitar um stop em Portland, EUA). Quem invade o espaço nas cidades?

 

Em querendo, o ACP teria variadíssimas alternativas a esta absurda campanha. Que tal sensibilizar os seus sócios e demais condutores, para respeitarem escrupulosamente os limites de velocidade? Ou imprimir autocolantes do clube com a conhecida frase Eu nunca estaciono nos passeios nem nas passadeiras? Ou apelar à condução defensiva com o lema “O meu sexo é melhor que o meu carro”?

 

O que mais espanta é ver a Câmara do Porto e a de Lisboa a embarcarem nesta farsa do senhor Barbosa. As duas maiores cidades do país associaram-se a uma iniciativa que aborda o mundo ao contrário, porque equaciona mal um problema grave, indo ao arrepio de tudo o que é vanguarda no pensamento das questão da mobilidade e da cidadania. Por muito que custe aos senhores Barbosas desta vida, por muito que a sua tacanha mentalidade egoísta recuse olhar o mundo em que vivemos, somos mesmo todos cada vez mais peões!

 

http://simplycommuting.wordpress.com/

 

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